Recuperação energética é a solução mais eficaz para a mitigação dos gases de efeito estufa do lixo urbano
O 6º Relatório (AR6) do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) teve o relatório do seu 1º Grupo de Trabalho publicado esta semana, indicando enorme preocupação com aquecimento Global e suas já importantes consequências em diversas ocorrências nestes últimos meses, como incêndios florestais, inundações e elevação da temperatura e do nível do mar, apontando que o planeta terra aquecerá 1,5 graus até 2040, com fortes efeitos inclusive no Brasil de acordo com uma pesquisa no país realizada pela Associação Brasileira de Recuperação Energética (ABREN).
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O mesmo relatório indica emissões insustentáveis de gases do efeito estufa (GEE), mensurados em toneladas equivalentes de CO2, e parte delas são provenientes do metano gerado pela disposição de lixo em aterros, equivalente a 64 milhões de toneladas por ano. De acordo com a ABREN, no Brasil isso representa em torno de 4% de todas as emissões totais de GEE.
Usinas de recuperação energética (Waste-to-Energy) reduzem em 8 vezes as emissões de gases de efeito estufa
Diversos países já adotaram há décadas a utilização de resíduos como fonte de energia em vez de simplesmente aterrá-los. O 5º Relatório do IPCC já apontava que as usinas de recuperação energética (Waste-to-Energy) reduzem em 8 vezes as emissões de gases de efeito estufa quando comparadas a aterros com sistema de captura de metano, e são a forma mais eficaz para mitigação dos gases de efeito estufa dos RSU (resíduos sólidos urbanos).
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Estudo do IEA Bioenergy indica que, cada tonelada de resíduos urbanos que deixam de ir para aterro, e são enviados para centrais de remoção dos recicláveis, e o material restante utilizado para gerar energia, permite a redução de aproximadamente 2 toneladas de gases de efeito estufa. Ou seja, considerando que somente 50% dos resíduos urbanos sejam utilizados para gerar energia, em substituição de combustíveis fósseis, teríamos uma redução de 5% das emissões de gases de efeito estufa no Brasil.
De acordo com a pesquisa local e os estudos de mercado da ABREN no Brasil, considerando um cenário que representa 58% de todo o lixo urbano gerado no Brasil (RSU), englobando as 28 regiões metropolitanas com mais de 1 milhão de habitantes, somados aos municípios com mais de 200 mil habitantes, poderão ser demandados investimentos de R$ 78,3 bilhões (CAPEX), nas 274 usinas URE (94), Plantas de produção de Combustíveis Derivados de Resíduos (CDR) (95) e Biogás (85), além de instalações de centrais de reciclagem não computadas nesse valor.
Nesse cenário apresentado, é considerado o tratamento de 46 milhões de toneladas de RSU por ano, sendo destinado 62% para URE, 21% para CDR, 11% para biogás e 6% para reciclagem, sendo que somente 4% continuarão sendo destinados para aterros. Serão gerados 15 mil empregos diretos, e evitados 91 milhões de toneladas de CO2 equivalente, o que corresponde ao reflorestamento de uma área de 273 milhões de árvores plantadas por ano, área similar a 1,5 vezes a do Município de São Paulo.
Utilização correta dos resíduos
A tecnologia de utilização correta dos resíduos, após retirada dos recicláveis, é empregada há décadas na maioria dos países do mundo, com destaque na Europa, EUA, Canadá, Japão, China e Coréia do Sul, e mais recentemente também em países da África e Oriente Médio, e também Austrália e Israel. A América Latina, no entanto, não detém nenhuma planta de grande porte de Waste-to-Energy (WTE) ainda em operação, mas já desponta com 36 fábricas de cimento licenciadas, que substituem 16,2% do combustível fóssil por CDR.
No Brasil, a utilização de resíduos como fonte de energia é utilizada em maior escala pela indústria cimenteira, e pela primeira vez a ANEEL lançou leilão de novos projetos de Waste-to-Energy, tendo como combustível os resíduos sólidos urbanos, sendo que diversos projetos estão em processo de implantação.
De acordo com o presidente da ABRE, Yuri Schmituke, “ainda há no País bastante resistência, inclusive de alguns Órgãos Ambientais que ainda não se adaptaram aos novos tempos e proíbem tecnologias amplamente utilizados e incentivadas em praticamente todos os países do mundo, como os Estados que proíbe a recuperação energética por incineração de RSU para geração de energia elétrica, tecnologia utilizada como fonte de energia limpa em 98% das 2.440 usinas em operação comercial no mundo, bem como outro Estado que limita o poder calorífico dos resíduos a serem utilizados em coprocessamento nos fornos de cimento em valores altíssimos não praticados em nenhuma parte do mundo e mais de 3 vezes o praticado em outros Estados do país”.